quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(PESSOA, Fernando. Obra poética, p. 164)

(imagem retirada do site: http://www.deldebbio.com.br/index.php/2008/11/13/autopsicografia)

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