sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os sapos



Enfunando os papos,

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.



Em ronco que aterra,

Berra o sapo-boi:

- "Meu pai foi à guerra!"

- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".



O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

Diz: - "Meu cancioneiro

É bem martelado.



Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos.



O meu verso é bom

Frumento sem joio.
Faço rimas com

Consoantes de apoio.



Vai por cinquenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A fôrmas a forma.



Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas..."



Urra o sapo-boi:

- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"

- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".




Brada em um assomo

O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como

Lavor de joalheiro.




Ou bem de estatuário.

Tudo quanto é belo,

Tudo quanto é vário,

Canta no martelo".




Outros, sapos-pipas

(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,

- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".



Longe dessa grita,

Lá onde mais densa

A noite infinita

Veste a sombra imensa;


Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,

No perau profundo

E solitário, é



Que soluças tu,

Transido de frio,

Sapo-cururu

Da beira do rio...



BANDEIRA, Manuel.  Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

Um comentário:

Unknown disse...

Oi professora é a Giovanna....
entra no meu blog ai http://wwwgiovannanet.blogspot.com/
COMENTA LÁH .....