domingo, 13 de fevereiro de 2011

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.



É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.


É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?


(CAMÕES, Luiz Vaz de. Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão. Universidade de Coimbra, 1953. p. 135)

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